A investigação por detrás do projeto SMOCK será, por esta altura, estranha a muito poucos, uma vez que desde abril que o modelo de avaliação de risco desenvolvido pelo Centro de Recursos Naturais e Ambiente(CERENA) tem dado que falar e ajudado cidadãos e autoridades a perceber o risco de ser infetado pelo novo coronavírus em cada ponto do país. Este interesse dos médicos de saúde pública e da sociedade civil em geral no mapa de risco motivou e estimulou a equipa do CERENA a aprofundar esta linha de investigação dando origem ao “SMOCK- Spatial Modelling for mapping COVID-19 risk”. O projeto foi um dos financiados no âmbito da 2.ª edição da iniciativa “RESEARCH 4 COVID-19” e promete continuar a evoluir para que seja possível reduzir a incerteza do modelo de risco, integrando também informação da mobilidade e outras covariáveis.
O sucesso do projeto inicial refletiu-se numa parceria com o Jornal Público da qual resultou uma ferramenta interativa que permitia partilhar os mapas de risco diariamente, conferindo uma maior projeção ao mapa de risco do CERENA. “Permitiu aumentar muito a visibilidade do nosso trabalho junto da sociedade e recebemos muito feedback positivo e contribuições tanto da sociedade em geral como da comunidade científica”, vinca a professora Maria João Pereira, líder do projeto e docente do Técnico. “É sempre muito gratificante ter este retorno, sentir que o nosso trabalho pode contribuir para este combate que a humanidade está a travar”, realça ainda a docente.
De acordo com a investigadora do CERENA “a discussão com colegas de várias áreas do conhecimento fez surgir novas questões e novos possíveis caminhos de investigação que necessitam de maiores sinergias para serem devidamente respondidas”. É com o foco nestes novos caminhos que a equipa do SMOCK avança agora para o futuro, no qual o financiamento de 38,000 euros, concedido pela FCT, terá um importante papel. “A obtenção deste financiamento é muito importante porque permite alargar a equipa de investigação e concentrar um maior esforço nesta linha de investigação, sem o qual não seria possível realizar ao ritmo necessário, pois o combate precisa de continuar dado que as previsões para o fim da pandemia ainda são muito incertas”, vinca a professora Maria João Pereira.
Desde abril, mês em que o modelo foi apresentado, a equipa do CERENA tem vindo a analisar a evolução dos padrões espácio-temporais do risco ao longo das várias fases da pandemia com base no histórico dos mapas. “Começámos por analisar informação adicional relativa à mobilidade inter-concelho das populações. Ao nível metodológico estamos a implementar a integração, neste modelo, de covariáveis através de métodos geoestatísticos e de Spatial Data Sciences”, refere a docente do Técnico. “Estamos a analisar o problema por faixas etárias e a testar os modelos para unidades geográficas menores nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto”, adiciona ainda. A equipa começou também a modelar no espaço outras variáveis como a incidência e prevalência. “O nosso modelo foi ainda aplicado na Bélgica e no Brasil com a colaboração de colegas de universidades desses países”, refere a líder do projeto.
À equipa do CERENA que desenhou o modelo que está na génese deste mapa, juntam-se agora no projeto SMOCK, cientistas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), do Interactive Technologies Institute (ITI/LARSys) e do Centro de Estudos de Gestão do IST (CEG-IST), “formando uma equipa multidisciplinar para responder aos objetivos do projeto”, tal como salienta a docente do Técnico.
Nos próximos meses, os cientistas irão trabalhar para “conseguir reduzir a incerteza do nosso modelo de risco” e “também disponibilizar os modelos como instrumentos a serem facilmente utilizados pelos decisores”, como adianta a professora Maria João Pereira. “Esperamos ainda compreender melhor os efeitos da aplicação das medidas de prevenção e mitigação da doença da COVID-19 através da análise dos padrões espacio-temporais”, avança, de seguida, a líder do projeto. A docente do Técnico frisa que “este conhecimento é fundamental para uma gestão em tempo real mais fina no terreno, isto é, aplicando medidas apenas nas áreas que são cruciais e pelo menor tempo possível, minimizando assim os impactos sociais e económicos de larga escala que estas medidas normalmente acarretam”.
Profundamente empenhada nesta missão de “registar a história do COVID-19 em Portugal de uma forma única”, a equipa sente que através da mesma “pode ajudar a lançar hipóteses sobre a evolução da doença e causas/ efeitos com base nos padrões espácio-temporais”. “Mas sobretudo, estamos a criar um conjunto de ferramentas que, conjuntamente com outras já existentes, podem permitir diminuir a incerteza e gerir o risco de uma forma mais rápida e eficaz em situações de epidemia”, complementa a docente do Técnico.